terça-feira, 20 de novembro de 2012

Retratos







Anne Isabelle Milbanke, esposa de Byron

Catherine Gordon, mãe de Byron

Augusta Leigh, meia-irmã de Byron

Condessa Teresa Guiccioli, amante italiana de Byron

Lady Caroline Lamb, "Caro", a 'louca'


Darkness


I had a dream, which was not all a dream.
The bright sun was extinguished, and the stars
Did wander darkling in the eternal space,
Rayless, and pathless, and the icy Earth
Swung blind and blackening in the moonless air;
Morn came and went—and came, and brought no day,
And men forgot their passions in the dread
Of this their desolation; and all hearts
Were chilled into a selfish prayer for light:
And they did live by watchfires—and the thrones,
The palaces of crownéd kings—the huts,
The habitations of all things which dwell,
Were burnt for beacons; cities were consumed,
And men were gathered round their blazing homes
To look once more into each other's face;
Happy were those who dwelt within the eye
Of the volcanos, and their mountain-torch:
A fearful hope was all the World contained;
Forests were set on fire—but hour by hour
They fell and faded—and the crackling trunks
Extinguished with a crash—and all was black.
The brows of men by the despairing light
Wore an unearthly aspect, as by fits
The flashes fell upon them; some lay down
And hid their eyes and wept; and some did rest
Their chins upon their clenchéd hands, and smiled;
And others hurried to and fro, and fed
Their funeral piles with fuel, and looked up
With mad disquietude on the dull sky,
The pall of a past World; and then again
With curses cast them down upon the dust,
And gnashed their teeth and howled: the wild birds shrieked,
And, terrified, did flutter on the ground,
And flap their useless wings; the wildest brutes
Came tame and tremulous; and vipers crawled
And twined themselves among the multitude,
Hissing, but stingless—they were slain for food:
And War, which for a moment was no more,
Did glut himself again:—a meal was bought
With blood, and each sate sullenly apart
Gorging himself in gloom: no Love was left;
All earth was but one thought—and that was Death,
Immediate and inglorious; and the pang
Of famine fed upon all entrails—men
Died, and their bones were tombless as their flesh;
The meagre by the meagre were devoured,
Even dogs assailed their masters, all save one,
And he was faithful to a corse, and kept
The birds and beasts and famished men at bay,
Till hunger clung them, or the dropping dead
Lured their lank jaws; himself sought out no food,
But with a piteous and perpetual moan,
And a quick desolate cry, licking the hand
Which answered not with a caress—he died.
The crowd was famished by degrees; but two
Of an enormous city did survive,
And they were enemies: they met beside
The dying embers of an altar-place
Where had been heaped a mass of holy things
For an unholy usage; they raked up,
And shivering scraped with their cold skeleton hands
The feeble ashes, and their feeble breath
Blew for a little life, and made a flame
Which was a mockery; then they lifted up
Their eyes as it grew lighter, and beheld
Each other's aspects—saw, and shrieked, and died—
Even of their mutual hideousness they died,
Unknowing who he was upon whose brow
Famine had written Fiend. The World was void,
The populous and the powerful was a lump,
Seasonless, herbless, treeless, manless, lifeless—
A lump of death—a chaos of hard clay.
The rivers, lakes, and ocean all stood still,
And nothing stirred within their silent depths;
Ships sailorless lay rotting on the sea,
And their masts fell down piecemeal: as they dropped
They slept on the abyss without a surge—
The waves were dead; the tides were in their grave,
The Moon, their mistress, had expired before;
The winds were withered in the stagnant air,
And the clouds perished; Darkness had no need
Of aid from them—She was the Universe.


Tradução (feita por Castro Alves)

As Trevas

Tive um sonho que em tudo não foi sonho!...
O sol brilhante se apagava: e os astros,
Do eterno espaço na penumbra escura,

Sem raios, e sem trilhos, vagueavam.
A terra fria balouçava cega
E tétrica no espaço ermo de lua.
A manhã ia, vinha... e regressava...
Mas não trazia o dia! Os homens pasmos
Esqueciam no horror dessas ruínas

Suas paixões: E as almas conglobadas
Gelavam-se num grito de egoísmo
Que demandava "luz". Junto às fogueiras
Abrigavam-se... e os tronos e os palácios,
Os palácios dos reis, o albergue e a choça
Ardiam por fanais. Tinham nas chamas

As cidades morrido. Em torno às brasas
Dos seus lares os homens se grupavam,
P'ra à vez extrema se fitarem juntos.
Feliz de quem vivia junto às lavas
Dos vulcões sob a tocha alcantilada!
Hórrida esp'rança acalentava o mundo!

As florestas ardiam!... de hora em hora
Caindo se apagavam; creditando,
Lascado o tronco desabava em cinzas.
E tudo... tudo as trevas envolviam.
As frontes ao clarão da luz doente
Tinham do inferno o aspecto... quando às vezes

As faíscas das chamas borrifavam-nas.
Uns, de bruços no chão, tapando os olhos
Choravam. Sobre as mãos cruzadas — outros —
Firmando a barba, desvairados riam.
Outros correndo à toa procuravam

O ardente pasto p'ra funéreas piras.
Inquietos, no esgar do desvario,
Os olhos levantavam p'ra o céu torvo,
Vasto sudário do universo — espectro —
E após em terra se atirando em raivas,
Rangendo os dentes, blásfemos, uivavam!

Lúgubre grito os pássaros selvagens
Soltavam, revoando espavoridos
Num voo tonto co'as inúteis asas!
As feras 'stavam mansas e medrosas!
As víboras rojando s'enroscavam
Pelos membros dos homens, sibilantes,

Mas sem veneno... a fome Ihes matavam!
E a guerra, que um momento s'extinguira,
De novo se fartava. Só com sangue
Comprava-se o alimento, e após à parte
Cada um se sentava taciturno,
P'ra fartar-se nas trevas infinitas!

Já não havia amor!... O mundo inteiro
Era um só pensamento, e o pensamento
Era a morte sem glória e sem detença!
O estertor da fome apascentava-se
Nas entranhas... Ossada ou carne pútrida
Ressupino, insepulto era o cadáver.

Mordiam-se entre si os moribundos:
Mesmo os cães se atiravam sobre os donos,
Todos exceto um só... que defendia
O cadáver do seu, contra os ataques
Dos pássaros, das feras e dos homens,
Até que a fome os extinguisse, ou fossem

Os dentes frouxos saciar algures!
Ele mesmo alimento não buscava...
Mas, gemendo num uivo longo e triste,
Morreu lambendo a mão, que inanimada
Já não podia lhe pagar o afeto.
Faminta a multidão morrera aos poucos.

Escaparam dous homens tão-somente
De uma grande cidade. E se odiavam...
Foi junto dos lições quase apagados
De um altar, sobre o qual se amontoaram
Sacros objetos p'ra um profano uso,
Que encontraram-se os dous... e, as cinzas mornas

Reunindo nas mãos frias de espectros,
De seus sopros exaustos ao bafejo
Uma chama irrisória produziram!...
Ao clarão que tremia sobre as cinzas
Olharam-se e morreram dando um grito.
Mesmo da própria hediondez morreram,

Desconhecendo aquele em cuja fronte
Traçara a fome o nome de Duende!
O mundo fez-se um vácuo. A terra esplêndida,
Populosa tornou-se numa massa
Sem estações, sem árvores, sem erva.

Sem verdura, sem homens e sem vida,
Caos de morte, inanimada argila!
Calaram-se o Oceano, o rio, os lagos!
Nada turbava a solidão profunda!
Os navios no mar apodreciam
Sem marujos! os mastros desabando

Dormiam sobre o abismo, sem que ao menos
Uma vaga na queda alevantassem,
Tinham morrido as vagas! e jaziam
As marés no seu túmulo... antes dela
A lua que as guiava era já morta!
No estagnado céu murchara o vento;

Esvaíram-se as nuvens. E nas trevas
Era só trevas o universo inteiro.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Byronismo



Tido como elemento de rebeldia e insatisfação – acompanhado por sua capa negra de incompreensão e desencanto para com o mundo – o byronismo ditou moda na literatura européia e influenciou poetas além dos mares. O termo não foi, entretanto, criado por  Byron, que era apenas uma representação viva dessa tendência que se fixou ao movimento romântico. Byron era o mítico, o popular, o romântico nato – um ser demoníaco e fatal, adorado e imitado pelo mundo, solitário, melancólico e cético em sua alma. Foi também o herói sonhador da liberdade, lutando contra a tirania; o cavaleiro negro de passado misterioso, obscuro e de atitudes fascinantes – o arquétipo romântico materializado.


O byronismo havia se tornado a ponte mal iluminada por onde a obscuridade de Byron tinha livre passagem, transpassando a nominação de influência literária e tornando-se um estado de espírito, uma postura dominante.


Durante o período de 1815 a 1850, quando ocorria o domínio do império burguês conservador, o byronismo foi sentido em multidão, em todos os países, entre os mais intelectualizados até leitores comuns, entre críticos e autores que  exaltavam Byron diante da falta de apreço de outros.


Byron foi poeta-símboloisto é, que personifica toda a ideologia de uma geração da qual representa em sua escrita, e isso o retira das amarras exclusivas da crítica literária, levando-o aos círculos da sociologia, filosofia e psicologia. Segundo Russel, crítico literário e estudioso da obra byroniana, a figura de Byron funcionava como força de causa nas mudanças estruturais da sociedade. O fato é que Byron foi um homem cuja importância é maior do que parecia mesmo que tal assinalação ainda soe estranho aos ingleses.
 

A melancolia, o desencanto e o ceticismo que desenvolveram o mito byroniano são melhores representados em obras como Childe Harold’s Pilgrimare – um longo poema lírico-descritivo que narra em seu caminho de peregrinação, amor, morte, meditação em ambientes exóticos e vingança – acompanhado dos contos metrificados The Giaour, The Corsair, Lara, Mazeppa e Manfred, além dos dramas históricos e bíblicos, como no poema Darkness.



Tânia Barão - Outubro/Novembro 2011


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Aspectos Ultrarromanticos no Byronismo


O Ultrarromantismo -  idealista e subjetivista – traz à tona o sentimentalismo sobrepondo a racionalidade, a glorificação da liberdade particular, individualista. O ‘eu’ triunfa sobre suas ambições e desejos arrogantemente; em um segundo momento, o ‘eu’ é opresso e esmagado pela solidão e obscuridade do mundo – a existência inútil.
Lord Byron foi a condensação desses dois momentos, o angustiado anti-herói, o amante libertino descrente da alma feminina, a figura demoníaca firmada por seu ceticismo – um orgulhoso incapaz que confessa a si mesmo, através de versos, seus medos num grito de sufocante subjetividade. Alguns trechos de poemas exemplificam bem essa passagem:

“Then lonely be my latest hour,
Without regret, without a groan;
For thousands Death hath ceas’d to lower,
And pain been transient or unknown.”
                        (Euthanasia, 1811)

“One struggle more, and I am free
From pangs that rend my heart in twain;
One last song sigh to love and thee,
Then back to busy life again.
It suits me well to mingle now
With things that never pleased before:
Though every joy is fled below,
What future grief can touch me more?”
(One Struggle More, and I am Free, 1811)

“’Tis time this heart should be unmoved,
Since others it hath ceased to move;
Yet, though I cannot be beloved,
Still let me love!”
(On the Day I Complete My Thirty-Sixth Year, Jan. 22,1824 – Byron’s last poem)

Tendo os sentimentos tomado conta da razão, cria-se significados mais profundos às paixões humanas, tornando qualquer ato justificável se tivesse como ponto de partida um sentimentalismo autêntico. O febril êxtase de sensações também causava inconformidade, levando os românticos   a uma série de procedimentos de fuga, pois a sociedade e a realidade não sabiam compreendê-los.
A fantasia, os devaneios e os sonhos tornam-se a evasão mais comum, confrontando a hostilidade do mundo. O ‘mal-do-século’, resultante do tédio desolado e da percepção da falta de grandeza da existência  causa uma insatisfação mórbida e, junto à fantasia, trazem à tona mitos do passado (como espíritos malignos, monstros e vampiros) ou criam novos (como Frankstein) , misturando terror, romance, sensualidade e crítica social.
Byron, que esteve presente no ‘nascimento’ de Frankstein, foi quem impulsionou o ressurgimento de figuras fantasmagóricas e mórbidas  em meio a reuniões soturnas  onde reunia amigos em sua abadia e todos tinham que vestir túnicas, bebiam vinho em comunhão na mesma taça feita de um crânio humano e depois se divertiam com as empregadas, numa mescla de luxúria e horror. Não obstante, isso nos faz lembrar automaticamente dos mitos vampirescos atuais: a sedução e o sangue. Ora, Byron fora um admirador das lendas vampirescas e chegou até a escrever sobre este tema, destacando as obras Lara e The Giaour.
E, se vida, mitologia e literatura estavam tão ligadas na existência de Byron, como não se identificar com o romance Drácula, de Bram Stoker, que fora escrito algumas décadas após a morte do Lord e funde a ligação entre o Drácula histórico (o conde Vlad Tepes IV), o conde Lara da obra de Byron que carrega a mesma atmosfera de mistério e terror e, por fim, o próprio Lord em si, pois Drácula só sobreviverá se tomar sangue humano, de preferência de belas mulheres, representando aí o aspecto sedução-horror característico do perfil Byroniano.
 Pode-se dizer, então, que o próprio Lord tornou-se um mito: o romântico nato, um ser demoníaco e fatal imitado pelo mundo exterior; solitário, melancólico e cético em sua alma. O Don Juan deflorador  de mulheres, o espírito que vagueia com sua capa negra nas sombras de Drácula e Frankstein.
Como figura aclamada, também viveu a parte nostálgica do Ultra-Romantismo, aquela em que se sente falta das coisas mais simples, seja pela negação do sofrimento presente, por uma alegria remanescente de uma época distante ou por uma epifania fundada em um passado muitas vezes desconhecido. Em um poema datado de 1815 e chamado apenas de ‘Stanzas for Music’, Byron apresenta essa melancolia nostálgica, falando de outros tempos onde havia algum sinal de alegria ou contentamento, exaltando a beleza da lágrima:

“There's not a joy the world can give like that it takes away
When the glow of early thought declines in feeling's dull decay;
'Tis not on youth's smooth cheek the blush alone, which fades so fast,
But the tender bloom of heart is gone, ere youth itself be past.

Then the few whose spirits float above the wreck of happiness
Are driven o'er the shoals of guilt, or ocean of excess:
The magnet of their course is gone, or only points in vain
The shore to which their shivered sail shall never stretch again.

Then the mortal coldness of the soul like death itself comes down;
It cannot feel for others' woes, it dare not dream its own;
That heavy chill has frozen o'er the fountain of our tears,
And though the eye may sparkle still, 'tis where the ice appears.

Though wit may flash from fluent lips, and mirth distract the breast,
Through midnight hours that yield no more their former hope of rest,
'Tis but as ivy-leaves around the ruined turret wreath -
All green and wildly fresh without, but worn and grey beneath.

Oh, could I feel as I have felt, or be what I have been,
Or weep as I could once have wept, o'er many a vanished scene;
As springs in deserts found seem sweet, all brackish though they be,
So, midst the withered waste of life, those tears would flow to me.”


Tanto os aspectos Ultrarromânticos quanto o byronismo são modernos e estão eternizados; mesmo que não mais se lembrem do seu nome, cada geração terá um resquício da contribuição de Lord Byron ao universo do terror e do mórbido, pois sua vida e obra se fundem num ideal egocêntrico almejado por aqueles que têm a alma de poeta, a existência melancólica e a que são condenados pelo infortúnio de uma mente brilhante e sagaz que rasga as cortinas do tempo, dos escândalos e das opressões – torna-se impermeável ao esquecimento o que uma vez nasceu da pureza da dor da alma humana. 


Escrito por: Tânia Barão em 09 de setembro de 2011
Bibliografia: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Byron: Poemas – Organização e Tradução. São Paulo:Hedra, 2008. 2ª Ed.

ALMEIDA, Marcos T.R. Lord Byron e Sua Herança ao Universo Gótico do Terror. http://marcostralmeida.blogspot.com/2008/01/lord-byron-e-sua-herana-ao-universo.html Visita em: Agosto/2011
Imagem: Byron no palácio Moncegino






domingo, 23 de outubro de 2011


Como primeira postagem deste blog e um mais que merecido presente de estréia, os admiradores de Lord Byron já podem se deleitar desde meados do mês de agosto de 2011 com uma das mais aprofundadas biografias feitas sobre o autor traduzida para o português. 
Trata-se da obra da romancista irlandesa Edna O' Brien, publicada originalmente no ano de 2009 e com uma vasta referência bibliográfica de alta confiabilidade. Edna transpassa cada ponto crucial da vida de Byron, das suas transgressões de humor à sua vulnerabilidade amorosa que lhe permite amar intensamente várias pessoas durante a sua vida. Tudo isso entrelaçado perfeitamente com cada uma de suas obras, levando o leitor a identificar em seus poemas muito mais do que palavras de um poeta-símbolo, mas penetrando em seu universo,  maravilhosamente perturbador. 
            O livro ainda conta com quatro páginas, frente e verso, de retratos  da família de Byron, pessoas que foram marcantes em sua trajetória como “Caro” (Lady Caroline Lamb) e de lugares em que o autor viveu, como por exemplo a Abadia de Newstead.
É uma obra de detalhes perfeccionistas, narrando o destino de todos seus conviventes após a sua morte e como estes lidaram e justificaram-na, levando Byron a ser sepultado como um poeta e ressuscitar como uma lenda.




Nota
: Título original – Byron In Love, 2009
Tradução: Mauro Gama, 2011

Sobre a autora: Edna O’Brien, romancista Irlandesa, nasceu em 15 de dezembro de 1930, autora de mais de 20  romances e da biografia do também autor irlandês James Joyce (1999). Edna tornou-se conhecida no Brasil por escrever um conto sobre Chico Buarque, após conhecê-lo na FLIP de 2009 e alegar que este, tanto quanto seu país, eram uma fraude.