segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Aspectos Ultrarromanticos no Byronismo


O Ultrarromantismo -  idealista e subjetivista – traz à tona o sentimentalismo sobrepondo a racionalidade, a glorificação da liberdade particular, individualista. O ‘eu’ triunfa sobre suas ambições e desejos arrogantemente; em um segundo momento, o ‘eu’ é opresso e esmagado pela solidão e obscuridade do mundo – a existência inútil.
Lord Byron foi a condensação desses dois momentos, o angustiado anti-herói, o amante libertino descrente da alma feminina, a figura demoníaca firmada por seu ceticismo – um orgulhoso incapaz que confessa a si mesmo, através de versos, seus medos num grito de sufocante subjetividade. Alguns trechos de poemas exemplificam bem essa passagem:

“Then lonely be my latest hour,
Without regret, without a groan;
For thousands Death hath ceas’d to lower,
And pain been transient or unknown.”
                        (Euthanasia, 1811)

“One struggle more, and I am free
From pangs that rend my heart in twain;
One last song sigh to love and thee,
Then back to busy life again.
It suits me well to mingle now
With things that never pleased before:
Though every joy is fled below,
What future grief can touch me more?”
(One Struggle More, and I am Free, 1811)

“’Tis time this heart should be unmoved,
Since others it hath ceased to move;
Yet, though I cannot be beloved,
Still let me love!”
(On the Day I Complete My Thirty-Sixth Year, Jan. 22,1824 – Byron’s last poem)

Tendo os sentimentos tomado conta da razão, cria-se significados mais profundos às paixões humanas, tornando qualquer ato justificável se tivesse como ponto de partida um sentimentalismo autêntico. O febril êxtase de sensações também causava inconformidade, levando os românticos   a uma série de procedimentos de fuga, pois a sociedade e a realidade não sabiam compreendê-los.
A fantasia, os devaneios e os sonhos tornam-se a evasão mais comum, confrontando a hostilidade do mundo. O ‘mal-do-século’, resultante do tédio desolado e da percepção da falta de grandeza da existência  causa uma insatisfação mórbida e, junto à fantasia, trazem à tona mitos do passado (como espíritos malignos, monstros e vampiros) ou criam novos (como Frankstein) , misturando terror, romance, sensualidade e crítica social.
Byron, que esteve presente no ‘nascimento’ de Frankstein, foi quem impulsionou o ressurgimento de figuras fantasmagóricas e mórbidas  em meio a reuniões soturnas  onde reunia amigos em sua abadia e todos tinham que vestir túnicas, bebiam vinho em comunhão na mesma taça feita de um crânio humano e depois se divertiam com as empregadas, numa mescla de luxúria e horror. Não obstante, isso nos faz lembrar automaticamente dos mitos vampirescos atuais: a sedução e o sangue. Ora, Byron fora um admirador das lendas vampirescas e chegou até a escrever sobre este tema, destacando as obras Lara e The Giaour.
E, se vida, mitologia e literatura estavam tão ligadas na existência de Byron, como não se identificar com o romance Drácula, de Bram Stoker, que fora escrito algumas décadas após a morte do Lord e funde a ligação entre o Drácula histórico (o conde Vlad Tepes IV), o conde Lara da obra de Byron que carrega a mesma atmosfera de mistério e terror e, por fim, o próprio Lord em si, pois Drácula só sobreviverá se tomar sangue humano, de preferência de belas mulheres, representando aí o aspecto sedução-horror característico do perfil Byroniano.
 Pode-se dizer, então, que o próprio Lord tornou-se um mito: o romântico nato, um ser demoníaco e fatal imitado pelo mundo exterior; solitário, melancólico e cético em sua alma. O Don Juan deflorador  de mulheres, o espírito que vagueia com sua capa negra nas sombras de Drácula e Frankstein.
Como figura aclamada, também viveu a parte nostálgica do Ultra-Romantismo, aquela em que se sente falta das coisas mais simples, seja pela negação do sofrimento presente, por uma alegria remanescente de uma época distante ou por uma epifania fundada em um passado muitas vezes desconhecido. Em um poema datado de 1815 e chamado apenas de ‘Stanzas for Music’, Byron apresenta essa melancolia nostálgica, falando de outros tempos onde havia algum sinal de alegria ou contentamento, exaltando a beleza da lágrima:

“There's not a joy the world can give like that it takes away
When the glow of early thought declines in feeling's dull decay;
'Tis not on youth's smooth cheek the blush alone, which fades so fast,
But the tender bloom of heart is gone, ere youth itself be past.

Then the few whose spirits float above the wreck of happiness
Are driven o'er the shoals of guilt, or ocean of excess:
The magnet of their course is gone, or only points in vain
The shore to which their shivered sail shall never stretch again.

Then the mortal coldness of the soul like death itself comes down;
It cannot feel for others' woes, it dare not dream its own;
That heavy chill has frozen o'er the fountain of our tears,
And though the eye may sparkle still, 'tis where the ice appears.

Though wit may flash from fluent lips, and mirth distract the breast,
Through midnight hours that yield no more their former hope of rest,
'Tis but as ivy-leaves around the ruined turret wreath -
All green and wildly fresh without, but worn and grey beneath.

Oh, could I feel as I have felt, or be what I have been,
Or weep as I could once have wept, o'er many a vanished scene;
As springs in deserts found seem sweet, all brackish though they be,
So, midst the withered waste of life, those tears would flow to me.”


Tanto os aspectos Ultrarromânticos quanto o byronismo são modernos e estão eternizados; mesmo que não mais se lembrem do seu nome, cada geração terá um resquício da contribuição de Lord Byron ao universo do terror e do mórbido, pois sua vida e obra se fundem num ideal egocêntrico almejado por aqueles que têm a alma de poeta, a existência melancólica e a que são condenados pelo infortúnio de uma mente brilhante e sagaz que rasga as cortinas do tempo, dos escândalos e das opressões – torna-se impermeável ao esquecimento o que uma vez nasceu da pureza da dor da alma humana. 


Escrito por: Tânia Barão em 09 de setembro de 2011
Bibliografia: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Byron: Poemas – Organização e Tradução. São Paulo:Hedra, 2008. 2ª Ed.

ALMEIDA, Marcos T.R. Lord Byron e Sua Herança ao Universo Gótico do Terror. http://marcostralmeida.blogspot.com/2008/01/lord-byron-e-sua-herana-ao-universo.html Visita em: Agosto/2011
Imagem: Byron no palácio Moncegino






domingo, 23 de outubro de 2011


Como primeira postagem deste blog e um mais que merecido presente de estréia, os admiradores de Lord Byron já podem se deleitar desde meados do mês de agosto de 2011 com uma das mais aprofundadas biografias feitas sobre o autor traduzida para o português. 
Trata-se da obra da romancista irlandesa Edna O' Brien, publicada originalmente no ano de 2009 e com uma vasta referência bibliográfica de alta confiabilidade. Edna transpassa cada ponto crucial da vida de Byron, das suas transgressões de humor à sua vulnerabilidade amorosa que lhe permite amar intensamente várias pessoas durante a sua vida. Tudo isso entrelaçado perfeitamente com cada uma de suas obras, levando o leitor a identificar em seus poemas muito mais do que palavras de um poeta-símbolo, mas penetrando em seu universo,  maravilhosamente perturbador. 
            O livro ainda conta com quatro páginas, frente e verso, de retratos  da família de Byron, pessoas que foram marcantes em sua trajetória como “Caro” (Lady Caroline Lamb) e de lugares em que o autor viveu, como por exemplo a Abadia de Newstead.
É uma obra de detalhes perfeccionistas, narrando o destino de todos seus conviventes após a sua morte e como estes lidaram e justificaram-na, levando Byron a ser sepultado como um poeta e ressuscitar como uma lenda.




Nota
: Título original – Byron In Love, 2009
Tradução: Mauro Gama, 2011

Sobre a autora: Edna O’Brien, romancista Irlandesa, nasceu em 15 de dezembro de 1930, autora de mais de 20  romances e da biografia do também autor irlandês James Joyce (1999). Edna tornou-se conhecida no Brasil por escrever um conto sobre Chico Buarque, após conhecê-lo na FLIP de 2009 e alegar que este, tanto quanto seu país, eram uma fraude.